Tenho acordado a pensar que tudo não passa de um pesadelo, que, ao abrir os olhos, alguém me vai dizer que não é verdade o que aconteceu. E queria que fosse só um pesadelo, não apenas por me tirar da consciência um peso do tamanho do mundo, mas principalmente porque isso quereria dizer que ainda estavas entre nós. Mas que digo eu, Stephie? Tu ainda estás entre nós, mesmo que não o mereçamos. Eu, pelo menos, sinto que não mereço essa presença, sinto que a tua partida deveria significar mesmo um abandono. Era assim que eu devia sentir-me com a tua partida. Abandonada. E, no entanto, sei que não me abandonaste: fui eu que me afastei. Como o fizeram tantas outras pessoas que passaram pela tua vida, ainda que pensasses que eras tu que fechavas portas...
Durante esta última semana, fui sabendo de coisas que me fizeram ter ainda mais certezas sobre a pessoa que tu eras e, se por um lado me deixa contente ter sido amiga de uma pessoa como tu, por outro lado fico triste por ver que nenhum de nós que travou conhecimento contigo conseguiu perceber verdadeiramente a pessoa que tu eras. Se lesses isto, irias certamente dizer que não eras ninguém de especial, que eras uma pessoa como tantas outras, que tinhas imensos defeitos e irias desviar a conversa porque não te sentias confortável quando se falava de ti. Mas eras especial. Tão especial que foste capaz de te esquecer de ti para que outros fossem felizes. Tão especial que deste tudo o que tinhas para que aos outros nada faltasse. Tão especial que partiste sem dar trabalho a ninguém, apenas sufocada nas palavras que não soubeste dizer, como escreveste no último post do teu blog.
E agora aqui, entre lágrimas que teimam em cair-me mesmo que as tente conter, sou eu que gostaria de te dizer tantas coisas que não disse por falta de oportunidade, por me ter afastado de ti, porque também eu te abandonei. Se me sinto culpada? Muito mesmo. Alguém disse que cheguei tarde de mais. É verdade. E sinto raiva de mim mesma por isso. E raiva do mundo que nunca te entendeu. Como eu também não te entendi...
Não é estranho que a vida nos tenha colocado de novo nesta espécie de "déjà vu" em que, mais uma vez, depois do meu silêncio tão prolongado, sejam para ti estas palavras de desabafo, estas confidências de como me sinto? Só tu me fizeste voltar a este espaço onde deixei, por algum tempo, um pouco de mim. Fugi daqui, como fugi de outros lugares, de momentos, de pessoas. Fugi de mim mesma. Se resultou? Nunca resulta fugir. Podemos atenuar o que sentimos, mas não se apaga, mesmo que digamos que a vida continua. É verdade, a vida continua, embora me possam dizer que para ti já não. Mas, como uma vez tu disseste, as pessoas só morrem quando, pelo esquecimento, as apagamos do nosso coração. E tu vais estar sempre no meu.
Viveste sem rede nem paraquedas e isso teve por vezes um preço muito alto, mas ainda que em algumas coisas parecesses ser medrosa, a verdade é que tiveste a coragem de mil Hércules. Como diz aquele poema de que gostavas, faltou-te "um golpe de asa". Mas isso não te impediu de voar alto. Como só os que são grandes conseguem voar.
Porque nunca te esquecerei e para que outros saibam que foste / és importante na minha vida, criarei algo simples para que fiques sempre presente e, dessa forma, possa redimir-me também por te ter abandonado quando tu nunca abandonaste ninguém, apesar de tudo. Até já, em Cartas para uma irmã!
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